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O Grande Barbosinha

Barbosinha montado em Sártiro Beta, por Itaqui Herdeiro

Obviamente, a grandiosidade de um ser humano não é mensurada pelo seu porte físico, e sim pelo tamanho de sua honra, de sua sensatez, de seu talento, de sua honestidade, de sua capacidade em tornar realidade seus sonhos e fazer dos mesmos uma realidade que de certa forma traga conseqüências positivas para cada um de nós e se torne verdadeiro exemplo a ser seguido.

A história da humanidade está repleta destes pequenos grandes homens, como Getúlio Vargas e Mahatma Gandhi, pequenos na estatura, mas imensos em suas obras e realizações.

A história de hoje nos remete à vida de um destes pequenos grandes homens, que deixou no berço da raça um legado a ser seguido por todos nós. Um homem que fez do cavalo Mangalarga Marchador seu ideal, o cavalo era seu companheiro, seu instrumento de trabalho e o pretexto para cultivar amizades por todo este Brasil.

Tive o privilégio de conviver com ele por quase 40 anos, ele foi meu amigo, companheiro de fundação do Clube do Cavalo de Cruzília, meu cliente em meu escritório de advocacia, meu incentivador quando o assunto era o nosso Mangalarga Marchador e meu exemplo de retidão e caráter a ser seguido.

Falo de Geraldo Barbosa Meirelles, para os amigos, simplesmente Barbosinha, que com seus pouco mais de um metro e meio de altura era um verdadeiro gigante em todas as características já mencionadas, mas principalmente quando a seleção do Mangalarga Marchador estivesse em questão.

Nascido em uma das famílias tradicionais de nossa região, os Meirelles do Angaí, Barbosinha teve uma vida dura, mas profícua. Se tornou órfão de pai ainda menino, e lá na Fazenda Santa Tereza, aqui mesmo em Cruzília, seu irmão Zé Barbosa, que era o mais velho, tomou as rédeas da família e, juntamente com sua mãe, acabou de criar os irmãos menores.

Zé Barbosa e o padrinho Edmundo Junqueira foram sem dúvida alguma o espelho em quem Barbosinha mirou para se tornar o grande homem que foi. Ainda rapaz, recebeu o convite do padrinho Edmundo Junqueira para ser o administrador da Fazenda Cabeça Branca, função que desempenhou por vários anos. No início, ainda residindo na Fazenda Santa Tereza, de sua família, que faz divisa com a Fazenda Cabeça Branca, e depois do casamento com a senhora Rita de Souza Meirelles se mudou definitivamente para a Fazenda Cabeça Branca, onde iniciou sua família, tendo nascido nesta época seus dois primeiros filhos, Lúcio Augusto e Lúcia Helena.

Na Fazenda Cabeça Branca, a lida diária o obrigou a selecionar os melhores cavalos para sua sela. Nesta época, surgiu uma parceria que o acompanharia por um bom período de sua vida, o cavalo Limoeiro, um belo tordilho de marcha batida de origem do Favacho, que Barbosinha escolheu para sua sela.

No lombo do Limoeiro, Barbosinha fazia todo o serviço na Fazenda Cabeça Branca. Nos finais de semana, o levava para cuidar de seu gado particular, que já criava na Fazenda da Tapera, os quais herdou dos sogros, e ainda da Fazenda Conquista de sua propriedade, já no município de Aiuruoca, esta última distante 40 quilômetros da Fazenda Cabeça Branca.

Uma curiosidade é que nesta época Barbosinha já marcava seu gado com a marca “GB”, de Geraldo Barbosa, e isso também gerou um apelido entre os fazendeiros mais velhos. Quando viam um garrote com aquela marca, diziam:

- Este garrote é do Guanabara!

Uma vez que na época o antigo Estado da Guanabara era representado pelas letras GB. Atualmente, poucos sabem, mas os antigos também tratavam o Barbosinha com o apelido de Guanabara.

Por volta de 1963, surgiu a oportunidade de adquirir a Fazenda Boa Vista, que fora construída pelo Barão de Alfenas para seu filho Joaquim Tiburcio Junqueira, na época já de propriedade de Paulo Junqueira Ferreira. Barbosinha não possuía todo o dinheiro necessário para a compra e, conversando da possibilidade do negócio com seu padrinho Edmundo Junqueira, este prontamente se disponibilizou a emprestar o valor faltante para a concretização do negócio, mesmo sabendo que depois do negócio feito perderia seu administrador. E assim foi feito, a Fazenda Boa Vista foi adquirida.

Fazenda Boa Vista em Cruzília

Quando foi fazer o acerto trabalhista com o Sr. Edmundo Junqueira, este perguntou ao Barbosinha:

- Pois é, Barbosinha, e agora, como faremos o acerto?

E Barbosinha respondeu:

- Padrinho Edmundo, não tem acerto a fazer, eu é que estou te devendo o dinheiro que me emprestou para completar o valor da compra da Boa Vista. Mas tenho um pedido a fazer.

Sr. Edmundo Junqueira quis saber logo do que se tratava.

- Pois então, Padrinho, se o senhor permitir, me deixe levar o Limoeiro para a Boa Vista, não vou encontrar outro cavalo como ele para fazer todo o serviço e ainda me levar lá na Fazenda Conquista para ver meu gado.

Sr. Edmundo Junqueira riu muito do pedido, mas deu de bom grado o Limoeiro para o Barbosinha. E para a Boa Vista se mudaram o Barbosinha, Dona Rita, os dois filhos mais velhos e o Limoeiro.

Já quando residia na Fazenda Boa Vista, o casal Barbosinha e Dona Rita tiveram mais quatro filhos: Flávio Henrique, o conhecido Preguinho, Luciano, Lucílio Carlos e Luciene.

Barbosinha sempre mantinha na Boa Vista três ou quatro éguas de cria, mas somente em 1978 se associou a ABCCMM, comprou uma égua registrada e registrou outras três, dando início ao hoje conhecido e tradicional criatório BETA.

As primeiras éguas foram:

GAROA BETA – Tordilha - Registro n° 12.062;

GAÚCHA BETA – Tordilha - Registro n° 19341, por Riachuelo do Bongue, este por Diamante do Bongue;

GUANABARA BETA – Tordilha - Registro n° 20749, também neta de Diamante do Bongue, o nome era uma homenagem ao antigo apelido que recebera dos fazendeiros mais antigos;

AMBARINA SIMPÁTICA – Tordilha – Registro n°

12.787.

Gaucha Beta - Matriz fundadora do criatório Beta, neta de Diamente do Bongue

Com a ajuda de grandes amigos, entre eles Argentino dos Reis Junqueira, Rubens Junqueira de Andrade, José Marcio Carvalho Leite, Adeodato dos Reis Meirelles Filho, Aníbal Junqueira de Andrade e Urbano Junqueira de Andrade, Oswaldo Cruz de Azevedo Junqueira teve acesso à genética de grandes reprodutores da época, que utilizou nestas matrizes fundadoras , tais como: ANGAÍ APOLO, ANGAÍ BOLERO, FARRAPO BELA CRUZ, KODAK BELA CRUZ, BEIJO VELHO JB, TOSTÃO JB, POP HAITI JOTABÊ, ORELHINHA, TRAITUBA AVISO, FAVACHO ALBATROZ e FAVACHO CANDIDATO.

Com esta genética em mãos, produziu diversos campeões com o sufixo Beta:

CANDIDATO BETA

TORPEDO BETA

SÁTIRO BETA

TUPAN BETA

BALUARTE BETA

JANOTA BETA

VIOLETA BETA

MUSA BETA

TUNÍSIA BETA

TRIBUNA BETA

TURMALINA BETA

REBECA BETA

ESCALADA BETA (Livro de Elite)

Candidata Beta

Porém, a sua consagração como criador veio com CANDIDATA BETA, Reservada Campeã Nacional de Marcha, preparada e apresentada na Exposição Nacional por seu filho Lucílio Carlos de Souza Meirelles, hoje também criador aqui em Cruzília, com o sufixo Caminho Real .

A grande virada do criatório BETA, do amigo Barbosinha, se deu com a aquisição do garanhão JUNQUEIRA TORPEDO, ainda potro, escolhido por seu filho Flávio Henrique, o Preguinho, em um Leilão em São Paulo.

Apesar de falecido precocemente, deixou dentre seus produtos o insuperável ITAQUI HERDEIRO, produto de uma cobertura utilizada pelo amigo Evânio Mangia, do criatório Itaqui, na égua Etiópia de Cataguá “S”.

Tendo nascido um potro espetacular, o Evânio mandou a égua cobrir novamente com o Junqueira Torpedo na Fazenda Boa Vista. Lá chegando, Barbosinha e Preguinho se encantaram com o potrinho no pé da égua e adquiriram o Herdeiro, que com sete dias chegou a Boa Vista, tendo produzido, dentre outros espetaculares cavalos, os Campeões Nacionais ITAQUI NINJA e COMETA PR.

Foto Itaqui Herdeiro

Felizmente, o Barbosinha colheu os frutos que plantou. Aquele menino órfão de pai, criado pelo irmão mais velho, empregado no início da vida, deixou para cada um dos seis filhos uma Fazenda e um imóvel na cidade, além de animais suficientes para iniciarem seus criatórios.

Viu o sucesso de seu criatório e foi homenageado ainda em vida por tudo isso. Da ABCCMM recebeu o título de Grande Benemérito do Mangalarga Marchador e do Clube do Cavalo de Cruzília o reconhecimento por tudo o que realizou em prol do nosso Cavalo em seu Berço.

Por coincidência, hoje, 5 de dezembro, dia em que estou terminando de escrever este artigo, se estivesse vivo, Barbosinha estaria completando 85 anos e, como dito anteriormente, deixou para os filhos bens materiais, mas a sua maior herança compartilhada, não somente pelos filhos, mas por todos nós, seus amigos e também por aqueles que conhecem sua história, fica além da saudosa lembrança, o exemplo deste homem que era extremamente cuidadoso com suas coisas e sempre tinha como máxima o ditado: “A ORDEM É A CRIADA QUE NÃO FALHA”. Talvez seja essa máxima a razão de seu sucesso como homem que foi e criador do nosso Mangalarga Marchador.

 
 
 

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