Em busca do sol fugitivo: Irene e Urbano
- Ana Carolina Meirelles
- 2 de jan. de 2019
- 3 min de leitura
“Quando tu te levantas no Oriente, enches tôda a Terra com tua formosura, teus raios se espargem pelos campos e por tudo o que tens criado; tudo unes com amor; tu estás longe, porém teus raios chegam à Terra; tu estás alto, mas o fulgor de tua passagem forma o resplendor do dia…”
Aken - Aton
(hino ao Deus - Sol, 1350 A. C)

O que quer dizer o sol quando se levanta todos os dias e ilumina verdes campos, águas e gentes? Às vezes, uma eterna procura pelo sol fugitivo. O que quer dizer o sol quando se esconde? Eterno retorno de Nietzsche, o que faz o tempo passar e a memória permanecer? Reféns da memória, organiza-se a história numa linha do tempo antes e depois de Cristo, no ocidente. Guardam-se escritos e hinos antes e depois de Cristo. Vive-se antes e depois de Cristo. “Em busca do sol fugitivo”, título de um livro escrito por Maurício do Valle Aguiar, 1964. Na dedicatória manual do autor, um ícone JB e sua companheira - Urbano e Irene. Segundo os escritos de Maurício, amigos e perfeitos companheiros de viagem.
Irene Vilela Junqueira fez “a volta ao mundo” com Urbano Junqueira e alguns amigos. A viagem foi documentada por Aguiar. Se conheceram na década de 1950 e só vieram a casar um tempo depois. Numa cerimônia de bodas (1979), as fotos revelam um casal além do seu tempo, Irene com um vestido simples porém elegante e uma flor cheia de simbolismo nas mãos. Irene sempre muito bonita, olhos claros iluminados por um sol presente em seu interior. Viveram na Fazenda Pilar Campo Lindo, onde Urbano criava gado holandês, cavalo Mangalarga Marchador e produzia queijos que eram vendidos para a Boanata, no Rio de Janeiro.
Em documentos concedidos pelo pesquisador Ricardo Casiuch sobre JB, há uma passagem em que Urbano comenta: “no meu período, o grande destaque foi um neto de Sargento JB, Sincero JB (Neon x Jotaina), o “semental fora da lei”, por ter servido tanto à raça Mangalarga quanto à raça Mangalarga Marchador”. Esse flerte de JB com as duas raças também representa o significado de um homem de superlativos. Dona Irene várias vezes repete a frase “ele era uma pessoa boníssima”. Ele gostava de agregar, de inovar, foi do Hawaii ao Japão. Gostava do melhor e de muito, saía do Brasil para buscar exemplares caros de gado na Holanda. Dona Irene, sempre companheira, ia junto. E adorava as viagens: “ir no Paraguai e comprar Whisky e perfume puro” - “quando eu for eu trago um pra você, você quer?” - boníssima também é Dona Irene, leve e simples.

Pelas escolhas e vida do Urbano, numa fome de mundo e conhecimento, forma-se hoje uma genética que simplesmente é uma das grandes responsáveis pela qualidade e beleza dos exemplares de marchadores atuais. A respeito da importância da linhagem JB para a Raça, Júnior Lollobrígida, embaixador do MM, diz: “gosto muito de plagiar Assis Brasil ao falar da influência deste criatório para nosso cavalo. O sangue do cavalo JB deve entrar na composição do Mangalarga Marchador, como o manganês na composição do aço, sem o sangue JB não há MM, e sem o manganês não há aço”.
Urbano acreditava que é na origem que se concentra a raiz de todo um processo evolutivo. Raiz que vem dele, porque veio do meio de criadores, mas também evoluiu porque saiu dele. Porque dispensou modismo e foi fundo no seu outrem, no seu âmago. Ter trazido Irene para sua vida, tê-la feito tão feliz com mimos e mais mimos. “Quero ver Irene dar sua risada… Irene ri”... Amazona emérita pela ABCCMM em 2003, está sempre presente nos eventos em que recebe homenagens, uma lucidez impecável. Irene, uma menina de Urbano. Urbano, um menino alquimista companheiro de Irene. Um lendário alquimista do Mangalarga Marchador.
Em busca do sol fugitivo, fez um plantel inteiro, levou a pelagem pampa para os mais altos patamares, carimbou o castanho-pinhão como a queridinha e influenciadora de plantéis inteiros de norte a sul deste país. Onde há JB, há vida e paixão. O que quer dizer o sol quando ilumina um JB? Um Beijo quente ou um sonho Atrevido?

Irene Junqueira durante Lançamento da Revista Sem Fronteira IV, Museu Nacional do MM, Julho 2018.
*Nota da autora: A Fazenda Campo Lindo, e a bicentenária Tropa JB, hoje, é administrada pelo filho do casal, Tony Junqueira. Dona Irene tem um relacionamento estável com José Maria há 17 anos e vivem hoje, em Cruzília.












































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